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8 de setembro de 2012

A Arte nos Caminhos de Santiago de Compostela | 1ª Parte



Cheguei a Saint Jean de Pied de Port, ainda não tinham soado as 7 horas. Dirigi-me ao abrigo  onde, fui muito bem recebido . Uma cama e um duche por 10 euros. Amanhã tenho a primeira etapa, por sinal bastante difícil. No total são 26 km, mas o pior é chegar aos 1430 metros de altitude, que já fica no lado espanhol em Collado de Bentartea,  onde atingimos o cume dos Pirinéus, quando alcançarmos os 18 km. Depois é descer até Roncesvalles. De Saint  Jean até Santiago são 751 Km. O caminho começa agora.



1. St.Jean-Pied-de-Port – Roncesvalles – 26Km – 8 horas de caminhada
Levantei-me às 6 hora, pequeno-almoço, pão, manteiga, doce de abóbora e café. Inicio o caminho ainda de noite, ligo lanterna para ver as setas amarelas. Passo as portas medievais da saint Jean e começo logo a subir. Esta subida inicial só termina aos 18,5 Km, em Collado de Lepoeder, a 1430 metros.
Depois de 8 km paro no refugio de Orisson  no meio do bosque d’Arloté. Este lugar tem uma esplanada e um bar. Bebo um café enquanto admiro a paisagem deslumbrante.
Próxima paragem, Vierge de Biakorri (1095m).
Passei agora por Puerta de Ibanheta (1057), já caminhei 22,5Km, começo a descer para Roncesvalles (950m).



2. Roncesvalles – Larrasoaña – 27Km – 7 horas de caminho
Mais um dia. Caminho com os músculos um pouco doridos, mas mal aqueçam tudo volta ao normal. Hoje tenho algumas descidas, mas duas subidas um pouco acentuadas. A primeira no alto de Mezkiritz (922m) aos 8Km, a segunda em Carrovide (909m) aos 15Km.
Em Auritz , quando já fiz 3 km, aproveito para tomar o pequeno almoço. 
Aos 11 km, entro em Bizkarrete e bebo um café enquanto descanso os pés.
Aos 21,5 Km chego a Zubiri. Passo pela ponte romana que atravessa o Rio Arga.



3. Larrasoaña – Pamplona – 16,5Km – 4h de caminho.
Larrasoanã fica a 490 metros de altitude. Hoje o caminho é todo plano. Atravessamos três vezes o Rio Arga.
Aos 8 Km, em Zabaldika, aproveito para descansar um pouco.
Cheguei a Pamplona. O Albergue é atrás da Catedral. Fica situado na zona antiga da cidade.
Á tarde visito a Cidade. Passeio pela Calle Estafeta, que é conhecida pela rua da largada dos touros de São Firmino. Em seguida visito a Catedral e o Museu de Navarra. Está a chover, tenho a roupa toda molhada. As botas com o pó e a água parecem uma obra de arte em barro. 
A Catedral de Santa Maria, La Real, construída durante os séculos XIV, aonde antes se situava um templo Românico. Atrás da sua fachada neoclássica (obra de Ventura Rodriguez) esconde-se um magnífico templo Gótico, cuja nave central mede 26,8 metros de altura. A construção é muito sóbria e a luz penetre por janela ogivais com vitrais do século XVI. A figura de Santa Maria que preside ao templo é uma talha românica revestida em prata. Na nave central está o sepulcro de Carlos III, o Nobre e sua esposa Leonor. O claustro é a verdadeira jóia da Catedral.





4. Pamplona – Puente La Reina – 24 Km - 6.30 h a caminhar.
O Caminho representa muitas coisas e ao mesmo tempo tem muitos significados. Cada um deve saber ou procurar saber a razão porque o inicia.
Fazer mais de 800km tem deve representar uma força de vontade justificada pela razão.
Saliento que durante a Idade Média existiam os peregrinos religiosos, os laicos devotos a São Tiago e os condenados que penitenciavam a sua pena percorrendo o caminho. Quando do seu regresso, tinham que se apresentar á justiça, fazendo prova que cumpriram a condenação, nessa altura mostravam o documento assinado pelo bispo de Santiago de Compostela ou uma concha das praias de Finisterra.




5. Puente La Reina – Lizarra /Estella – 22Km, 5h00 de caminho.
O Percurso até Lizarra é plano. Enquanto caminhamos podemos observar a bela Sarra de Andia, cujo alto de La Trinidad situa-se a 1300 metros de altitude.
Aos 13 Km passamos o rio Salado por uma ponte medieval.



6. Lizarra / Estella – Los Arcos – 22km, 6h00 de caminho.
Los Arcos é uma povoação muito interessante. Situada a 450 metros de altitude, tem vários albergues. 



7. Los Arcos – Logroño – 28km, 6h30 de caminho.
Hoje a etapa tem um ponto alto, aos 10 km, na Ermitã de Lavirgem de Poyo, situada a 560 metros de altitude.
Chego a Logroño (La Rioja) depois de atravessar Navarra e procuro o albergue. Situado na parte antiga da cidade, situa-se frente á Policia Local, juntos á igrejas românicas.



8. Logroño – Nájera – 31km, 8h30 de caminho.
O Rio Ebro é deslumbrante e confere uma beleza a este lugar, cheio de jardins e de fontes.
Estou na Praça do mercado, ao fundo situa-se a catedral de La Redonda, construída ao longo de vários séculos. As suas famosas torres gémeas datam do séc. XVIII. No seu interior destaca-se o coro, o retábulo maior do sec.XVII e um quadro da crucificação atribuído a Miguel Ângelo.
Paro em Ventosa num bar junto ao caminho. Aproveito para descansar os pés.



9. Nájera – Santo Domingo da la Calzada – 21km, 5h00 de caminho.
O Responsável do albergue, revelou-me que já fez o caminho português e que não encontrou sinalização alguma até ao porto, ale disso não existem albergues municipais e teve que dormir em hotéis.




10. Santo Domingo da la Calzada – Belorado -  23km, 5h30 de caminho.
Hoje tenho pela frente uma caminhada moderada. Temos uma subida a partir de Azofra, situada a  6km, até aos 16km, termina em Rioja Alta.





11. Belorado – San Juan de Ortega – 24km, 6h30 de caminho.
Estou muito cansado, são seis horas e o meu corpo está a precisar de repouso. De Belorado a San Juan são 24km. Temos uma montanha de 1200m para subir. O cume fica no Alto de Valbuena, nos Montes de Oca.



12. San Juan de Ortega – Burgos – 28 km, 7h00 de caminho.
De San Juan a Burgos é quase sempre a descer, mas temos a partir dos 6km uma subida até aos 1100 metros, onde se situa Matagrande. Esta subida é a partir de Atapuerca e é só durante 2 km.
Chego a Burgos por volta das 6 horas da tarde.
Burgos é uma cidade lindíssima, onde se observa uma boa qualidade de vida dos seu habitantes.
Visito a Catedral Gótica. Declarada Património da Humanidade pela UNESCO em 1984. Este templo, constitui o primeiro exemplo de arte gótica em Espanha.
Dedicada á Virgem Maria, começo a ser construída em 1221,pelo rei D. Fernando e pelo bispo Don Mauricio seguindo os padrões góticos fraceses, assim com os germânicos.


Se pensar fazer o caminho medieval francês e precisar de alguma informação, escreva para:
ag@epci.online.pt

5 de agosto de 2011

Diario do Caminho de Santiago - Agosto de 2011






 
no Monte do Gozo

no Monte do Gozo

 
paragem para descanso
na praça do Obradoiro em Santiago

frente à Catedral de Santiago
 
paragem para beber água












 












7 de julho de 2011

Códice Calixtino roubado da catedral de Santiago de Compostela

Códice Calixtino
O Códice Calixtino, ou Codex Calixtinus, um livro do século XII de valor incalculável, desapareceu da Catedral de Santiago de Compostela, em Espanha. O manuscrito estava guardado numa caixa forte no arquivo da catedral e o seu desaparecimento apenas foi reportado esta terça-feira. Este crime já é considerado um dos mais graves cometidos contra o património histórico e artístico. A polícia já está a investigar o caso e segundo informou Miguel Cortizo, delegado do governo na Galiza, não existem sinais de arrombamento da caixa forte onde se encontrava o valioso manuscrito, o mais antigo e completo dos livros da catedral, considerado a jóia da identidade galega. O “El País” avança que foram encontradas as chaves da caixa forte ainda colocadas quando se descobriu o desaparecimento do Códice, o que torna o caso ainda mais misterioso, tendo em conta que o acesso ao arquivo da catedral é restrito. Apenas cinco ou seis pessoas podem circular naquele espaço. Estas já foram interrogadas pelas autoridades mas nenhuma foi considerada suspeita.
Aquele que é definido como o primeiro e mais célebre guia para peregrinos foi mostrado pela última vez há cerca de dois meses a elementos do Ministério da Cultura. Quando na terça-feira os responsáveis do arquivo não encontraram o Códice Calixtino, e como o cofre onde estava não apresentava sinais de arrombamento, não foi colocada de imediato a hipótese de roubo. Depois de o livro não ter sido localizado nem ter sido encontrada qualquer pista sobre o paradeiro, a polícia foi alertada. “O melhor que pode acontecer é que o Códice esteja em mãos de alguém que conheça o seu valor incalculável porque assim temos a certeza que não o maltratará”, explicaram as autoridades ao “El País”, acrescentando que todos os meios estão a ser disponibilizados, estando também a Brigada Central do Património Histórico a ajudar à investigação.
Especialistas citados pelo “El Correo Gallego” consideram que a obra já se encontra fora de Espanha, podendo tratar-se de um roubo realizado por um grupo contratado por algum coleccionador ou traficante de objectos desde género. Neste sentido, Miguel Cortizo contou que já foram activados os protocolos europeus, de forma a controlar os mercados onde este tipo de obras podem ser comercializadas.
Carlos Villanueva, catedrático da Universidade de Santiago de Compostela e estudioso destas obras, afirmou que o livro tem um valor “imenso”, difícil de estabelecer caso a obra fosse leiloada. O académico considera que o livro é possivelmente o original (ou pelo menos o melhor dos exemplares) do Codex Calixtinus, o primeiro guia do Caminho de Santiago, que foi encomendado pelo Papa Calixto II ao sacerdote francês Aymeric Picaud. O Códice Calixtino descreve pela primeira vez os detalhes de várias das rotas do Caminho, com informação sobre alojamento, zonas a visitar e património e objectos de arte que podem ser conhecidos. Um relato que, nove séculos depois, continua nos dias de hoje a ser citado e ainda serve de referência para alguns dos locais percorridos pelos peregrinos. Elaborado entre 1125 e 1130 - depois publicado em 1160 - o texto ficou maior do que o inicialmente previsto, acabando por contar com participações dos principais escritores, teólogos, fabulistas, músicos e artistas da época, tendo que ser dividido em cinco livros e vários apêndices, entretanto reunidos, já no século passado, num único volume.
A ministra da Cultura, Ángeles González-Sinde, já expressou a sua confiança nas autoridades e acredita que a obra vai ser recuperada. “Felizmente, a Brigada do Património Nacional tem dado resultados muito bons em casos similares”, disse, lembrando o caso dos documentos roubados da Biblioteca Nacional e de outras bibliotecas e que foram depois recuperados.

29 de agosto de 2010

Preparação


O que é o Caminho de Santiago?

Desde a descoberta do túmulo do Apostolo Santiago em Compostela, no século IX, o Caminho de Santiago tornou-se na mais importante rota de peregrinação da Europa Medieval. A passagem dos inúmeros peregrinos que, movidos pela sua fé, se dirigia a Compostela desde todos os países europeus, serviu como ponto de partida de todo o desenvolvimento artístico, social e económico que deixou os seus vestígios ao longo deste percurso. Mas o caminho não é um resto arqueológico de um esplêndido passado histórico, mas sim um caminho vivo, renovado, pela passagem de novos peregrinos, dos viajantes e dos turistas que revivem já em pleno Sec. XXI uma Historia que é património comum de todas as povoações da Europa.

Peregrinar a Santiago ao modo tradicional, não é só simplesmente estar em contacto com a natureza ou fazer desporto, é isto mas muito mais. È encontrar-se com as raízes religiosas e históricas da Europa, olhar a arquitectura com outros olhos, é renovar um caminho de transformação interior, é caminhar e viajar ao ritmo de outros séculos, é…peregrinar.

Pode-se dizer que o Caminho de Santiago é um símbolo. É uma rota de fé, uma rota de arte e cultura, uma rota ecológica e humana: um encontro com a transcendência; a procura de si mesmo, uma peregrinação ao misterioso morrer e renascer. É uma aventura física e sobretudo espiritual.

Conselhos práticos para percorrer o Caminho a pé

Para mim a peregrinação a pé a Santiago de Compostela foi uma das experiencias mais gratificantes da minha vida. Já fiz caminhadas durante os meus tempos de escuteiro, percorri a Europa á boleia 2 vezes, fiz 4 inter-rails, depois de adulto todos os meses de verão visitava com a família um país ou uma região do norte da Europa… mas esta caminhada foi ao mesmo tempo um desafio físico e mental…

É um desafio de que deve preparar muito bem.

Antes de mais nada é necessário ambientar-se com o tema…lendo livros sobre a historia de São Tiago, sobra a Historia do Caminho e sobre a Peregrinação.

O Peregrino vai aperceber-se que faz parte de um elo da grande cadeia de peregrinos que lhe precederam e que de algum modo lhe preparou o percurso que está a fazer.

Lembro-me que só quando visitei a Catedral de León dei conta do numero de peregrinos que estão a fazer o caminho ao mesmo tempo que eu. Falei com um italiano que estava a carimbar a Credencial na Catedral, que vinha de Itália… cá fora na praça, uma imensidão de peregrinos descansavam, para recuperar as forças para o dia seguinte.

Eu comecei a interessar-me pela Peregrinação há 11 anos atrás, quando um amigo (Paulo Perre Viana) me falou da caminhada. Dizia-me que regressou com o mesmo BI e o mesmo nome, mas na realidade ele já não era a mesma pessoa que tinha partido…

Comecei desde então a interessar-me por este tema, até então completamente desconhecido. Comecei a ler e a documentar-me e a pouco e pouco fui preparando o Caminho na minha mente. Os filhos entretanto ficaram como prioridade e adiei, adiei, até ao dia 12 de Agosto de 2010.

Existe uma variedade ampla de documentação sobre os Caminhos de Santiago, quando chegamos a León verificamos que as compras de livros foram mínimas, são várias dezenas de autores a falar do tema e ainda por cima, no Turismo oferecem gratuitamente alguns livros.

Deve fazer um plano prévio antes de iniciar a caminhada. O normal é percorrermos 25 a 30 kilometros por dia. Comece por traçar etapas curtas e depois vá aumentando a distancia. É importante ouvir o seu corpo, ouça o que ele lhe diz. Quando chega ao destino de cada etapa a entrada nos albergues ou abrigos é básica, estes lugares estão reservados aos peregrinos. O lema da maior parte deles é: dê o que puder, tire o que precisar. O normal, na maior parte das vezes é dar 5 euros pela estadia.

A preparação do equipamento:

A mochila será a vossa companheira de caminho durante muitas horas, por isso deve ser cómoda e leve, anatómica, com correias de aperto na cintura, no peito e com bolsas laterais e superiores. Não se esqueça que o peso é o grande problema do caminheiro. Eu levei o portátil e comprei o dicionário da escrita hieroglífica e este peso suplementar fez mossa durante 6 horas de caminho, acreditem…não transportem na mochila mais de 10% do peso do teu corpo. Coloca os objectos mais pesados no fundo da mochila. Nos dias nublados, coloca a capa da chuva no saco superior da mochila, deste modo, é mais rápido retirares a protecção quando começa a chover rapidamente.

O saco-cama deve ser adequado á estação. No verão escolhe um saco mais fresco e no inverno um mais grosso, mas sem ser para regiões polares, próprios para montanhas com neve. Não esqueças de levar a esteira ou esponja para evitar o contacto com o chão húmido.

O calçado é outro dos elementos importantíssimos. Procura levar mais um par, ou leva uma protecção em caso de chuva, vi umas na coronel tapiocca em conta. Lembra-te que vais passar em sítios com pedra, lama, terra mole que fica presa nos rastos das botas, enfim pensas em todas as variáveis…em relação ás bolhas nos pés, eu levei para a caminhada um spray, agulha e linha para furar as bolhas, desodorizante para os pés, uma caixa de pensos para calosidades, uma pomada em baton para colocar antes da caminhada, evita bolhas provocadas pela fricção da meia com o pé, um creme para os lábios 50+, protecção solar 50, um chapéu tipo panamá e um cantil de 1 litro, para água. 

Em relação á roupa, deves levar pouca, dois conjuntos de cada peça, uma camisola e uma capa para a chuva. Um saco com detergente para a roupa, um bastão ou vara de caminhante, leva um pouco de comida, fruta, frutos secos, chocolate e um cantil com água. Leva o teu cartão de assistência de saúde, eu esqueci-me do meu e espero que não tenha necessidade de ir a um hospital. Aconselho levar o cartão multibanco e pouco dinheiro. Um pequeno bloco A5 para apontamentos, não esqueças de carimbar a Credencial em cada abrigo que pernoitares. Lembra-te que se fizeres só 100 km terás que carimbar duas vezes por dia a Credencial. Não esquecer que todo o percurso está assinalado com setas amarelas e marcos de pedra, evite as horas de maior calor, sai pela manhã (6horas). Antes de sair enche o cantil, coloca a pomada nos pés, o protector solar na cara, braços e o creme para os lábios, come uma coisa leve e faz alongamentos. Se encontrares alguns albergues sem condições, agradece na mesma, lembra-te que nos caminhos das montanhas as pessoas estão ali para te ajudar sem nada querer em troca, é esquisito não é, mas é mesmo verdade. Nos albergues, antes de saíres, procura deixar tudo limpo. Quando caminhares ao longo da estrada, tem atenção ao automóveis…



28 de agosto de 2010

Diário


BOM CAMINHO

António Vaz Gonçalves
  Diário de um peregrino no caminho de León a Santiago de Compostela
360 quilómetros a pé pelo Caminho Francês - De 12 a 28 de Agosto de 2010

Dedico este diário ao Miguel e ao Duarte, que estiveram sempre comigo nas horas boas, mas também nos momentos mais difíceis.À Mariví que sem a sua força, não conseguiria chegar ao fim. À Leonor e Edurne cuja tenacidade de querer, me deram forças para continuar.


O meu Caminho para Santiago de Compostela

12 de Agosto de 2010
Lisboa - León

A partida de Lisboa foi como tinha previsto, acordei às 5h30, 7h30 voo para Madrid, chego por volta das 9 horas, apanho o Metro para Chamartín e às 11h30 o comboio para León, vou chegar às 15h30.
(…)
Cheguei a León, são agora 16 horas, vou ficar numa pousada junto á catedral e depois comer qualquer coisa.


Catedral de Léon - Pórtico da Catedral - Escultura frente à Catedral

Estou em frente á catedral gótica de León, edificada no Sec.XIII no mais puro estilo gótico, sobre os alicerces de umas termas romanas e do palácio real de Ordoño II. Destacam-se os seu125 janelões, com mais de 1.900 m2 de vitrais. O seu coro tem 76 assentos feitos em nogueira no Sec. XV. O claustro é do Sec. XVI. Fiquei impressionado com o trabalho em madeira de nogueira nas portas da catedral, um magnífico trabalho de escultura.

Existe uma escultura no centro da Plaza Regla, que é a local onde se localiza a Catedral, essa peça tem representado vários modelos de mãos em baixo relevo, e está no centro de um labirinto desenhado na calçada. O peregrino deve primeiro contornar o labirinto dar a volta á escultura, em seguida colocar primeiro a mão direita no molde certo. Dizem que dá sorte para o resto da caminhada.

Uma das primeiras coisas a fazer quando chegamos a León é procurar alojamento. Os preços das pousadas são acessíveis, também podem dirigir-se directamente ao Turismo, que fica junto da catedral, uma ruela em frente, dirigem-se para a Praça Santa Maria del Camino, onde fica situado as Beneditinas, que é também a sede da associação de amigos do Caminho de Santiago, dirigem-se á recepção, mostram a vossa identificação e pedem a “Credencial do Peregrino”, ao mesmo tempo podem colocar o primeiro carimbo. Lembro que “A Compostela” que é concedida por parte da SI Catedral de Santiago e só se outorga quando na peregrinação se realizam pelo menos os 100 últimos quilómetros a pé ou a cavalo, ou 200 km em bicicleta. Este documento emite-se na chamada Casa de Dean, na Rua do Villar, nº1, junto á Catedral. Na sua origem a Compostela era passada em pergaminho, onde se relatava um texto extenso sobre Santiago como padroeiro e protector “único e singular das Espanas”.

A Compostela só é passada nos anos Jubileu. Quando coincide que o dia da festa de Santiago apóstolo, (25 de Julho) coincida num Domingo. O próximo ano Santo ou Jacobeu, será dentro de 11 anos.

Nas Beneditinas existe alojamento gratuito, perguntem se podem pernoitar.

Os carimbos na Credencial podem também ser feitos no Turismo ou na Catedral, este encontra-se em cima de uma mesa, na livraria.

À saída das Beneditinas, passei por uma praça que parece que desde a Idade Média permanece intacta, somente os vários cafés com as suas esplanadas alteram a imagem medieval da praça. Escolho o “El Grifo” para beber uma cerveja e descansar um pouco. Sento-me e peço uma bebida…trazem a cerveja e mais um bocadillo de presunto, com os desejos de uma boa caminhada…vou-me habituando á ideia que, por estes lados, o caminheiro peregrino é muito considerado.



Igreja de S.Isidro - Rua de Léon - Praça São Marcos

Visitei o museu Bíblico Oriental, que se situa perto da Catedral, na Plaza de Santo Martino, nas traseiras do Turismo. O intuito era de entrar na Exposição sobre Alexandre Magno. A surpresa foi…sem palavras… situa-se neste local o Instituto Bíblico Oriental, que é o maior centro documental da Espanha em Aramaico, Cuneiforme, Hieroglífico e Grego. Fiquei apaixonado por esta cidade, se pudesse vivia aqui, sem a mínima dúvida. Aqui existe toda a Historia da Antiguidade pré-clássica, Clássica e Medieval.

Que cidade fantástica…

A 50 metros do Museu fica a Praça de S. Isidro, emoldurada pela Basílica do mesmo santo. Este monumento começou com arquitectura românica e acabou em estilo Gótico…

Numa ruela junto a Santo Isidro entrei numa livraria muito antiga, quase um misto de alfarrabista, procurava um Códice medieval, escrito por um peregrino no sec XII e cuja cópia está na Catedral de Santiago. Dirigi-me ao balcão, respondeu-me que era possível conseguir uma na próxima semana, mas que me custaria 140 euros, era uma raridade. Disse-lhe que não era esse o preço que estava a pensar dar pelo livro…finalmente depois de estarmos á conversa durante algum tempo, perguntei pelo dicionário da escrita hieroglífica que está editado em castelhano… respondeu-me que há muito que se encontra esgotado, mas tem um exemplar que me pode fotocopiar…mais uma vez pensei estar em maré de sorte…assim fez, fotocopiou-me o livro e simpaticamente disse que “podem ser 20 euros”…achei um maravilha…

Existe perto desta livraria, atrás da catedral, o Hotel “casco antiguo” de 2 estrelas que me parece ser uma preciosidade, preço 18 euros noite… fica na calle Cardenal Landazuri.

No centro Leonês de Arte está, até 12 de Setembro, uma exposição sobre ”La herencia del reino de León a través de su arquitectura”. O Centro fica situado na Puerta de la Reina, perto da Plaza Santo Domingo.
É já noite e os leoneses saem todos á rua para passear… as esplanadas estão cheias. Está a ficar frio, vou comprar uma camisola, só tenho duas tshirts na mochila.
… une proposition à mon Dieu… Dieu Pére… beaucoup de fois je me sens saisi à des choses matérielles qui m'empêchent de sortir de moi même. Je suis dans le début de ma randonnée, dans le pèlerinage à Santiago de Compostela, aide-moi à faire de ma vie une vie plus authentique. Je te demande que pendant ce chemin que commencement maintenant, tu me aides à être toujours disponible pour que tout ce lequel vous vouliez me demander. Je demande te que tu guides mes fils, pour que suivent les chemins de la vie, basés sur le respect, le travail honnête et la loyauté. Ámen


Dia 2 | 13 de Agosto de 2010
León

Acordei em León…levantei-me cedo e acabei de tomar o pequeno almoço num café muito simpático frente ao Hostal, na calle Alcazar de Toledo, temos ligação eléctrica ao lado da mesa para o portátil e internet .
León está situada entre os rios Torio e Bernesga, local escolhido para acampamento romano da célebre “Legión VII”, no ano 70 d. Cristo. Esta legião foi Criada por Galba, que resultou do recrutamento dos nativos desta região. Curiosamente esta palavra deu origem a “León”.

León na Idade Média era uma cidade cheia de peregrinos e albergues, fazia rivalidade com Burgos. Em 1255 começou a construção da Catedral Gótica com as capelas de abside e vitrais dos séculos XIV e XV.

Parto amanhã para Astorga, hoje vou visitar o Musac, Museu de Arte Contemporânea, fica um pouco distante do centro da cidade, assim aproveito para fazer um exercício de preparação para o dia seguinte, que vai ser já a sério.




São 3h30 e estou a sair do Museu. Fica situado na Avenida Reyes Leoneses, o site é www.musac.es. a entrada é gratuita. A exposição que visitei hoje, tem uma temática ligada á América latina. Muito interessante.

No regresso visitei a praça de São Marcos onde se situa o Museu de León, o restante edifício está transformado num Parador de 5 estrelas.

São 8h30 estou na Plaza Mayor a beber uma cerveja, num café chamado “The Harley”. Da parte da tarde estive outra vez na catedral ver em pormenor o trabalho de restauro que foi feito, a reconstrução nos finais do sec.XIX e durante todo o século XX, o pórtico sul ainda tem os andaimes…gostei imenso e aprendi muito sobre o pensamento que a tutela da cultura em Espanha, tem acerca do património arquitectónico.

Estou ansioso para que chegue amanhã, para poder começar a caminhada.


14 de Agosto
León – San Martin del Camino (26km)



Parti de León por volta das 8h30, fui sempre ao longo do rio Bernesga e na Praça de San Marcos atravessei a ponte em direcção ao polígono industrial. Até Virgem del Camino foi quase sempre por asfalto, mas com pequenas subidas e descidas. Existe aqui uma fonte, que está rodeada por um relvado, para podermos fazer o nosso primeiro descanso.

No Códice  existe uma referência ao encontro de Laffi, que ficou horrorizado porque descobriu, nesta região, um cadáver de um homem que tinha sido comido por lobos.

Na retoma do caminho noto que os pés não estão a querer colaborar, mas depois de novamente estarem quentes a dor passa. Depois passo por Valverde de la Virgem, onde está outra fonte com água fresquinha, enchi o cantil e continuei. Foi a partir daqui que as coisas começaram a doer. Já estava a caminhar há 5 horas, ainda tinha que descer para Villadangos del Páramo, o sol era muito forte, a sensação de que tinha o braço esquerdo e o pescoço vermelho ou preto era horrível, aliás esta era palavra que eu usaria para descrever o resto do caminho até San Martin del Camino, as dores nos ombros, das pernas, tornozelos e até da mão, de tanto usar o bastão eram quase insuportáveis. Finalmente cheguei a Villadangos, parei numpequeno bosque, com uma fonte, um riacho e umas vacas leiteiras muito quietinhas. Descalcei-me e coloquei um penso anti-bolhas na palma do pé esquerdo, bebi água, passaram alguns caminheiros de bicicleta e a pé, e quando estava a preparar-me para sair, chega um casal de alemães de bicicleta, com idade para estarem em casa a cuidar dos netos, ela bebe água e ele abre a mochila e tira um cerveja fresquinha. Ficamos um pouco à conversa…Eu regresso ao caminho quando passam por mim, novamente, o casal alemão e ele grita ”olá amigo português”.

Quando passamos por um peregrino dizemos “bom caminho” e quando ouvimos imensas pessoas ao logo do trajecto, mas não são peregrinos, a desejar-nos “bom caminho”, simplesmente agradecemos.

De Villadangos del Páramo até San Martin del Caminho são cerca de 6 kilometros. Não sei explicar a força de vontade que tive, para terminar este dia, pareceram-me 50 quilómetros, eu via finalmente a vila lá ao fundo, mas como era plano, nunca mais terminava, finalmente vi anunciado numa placa: abrigo 300 metros…a pouca distancia um outro abrigo mais modesto, com um aspecto de casa prefabricada surgiu atrás de umas arvores, nem hesitei, entrei e atendeu-me uma senhora muito simpática, que parecia conhecer-me desde o berço, fez-me uma visita guiada, como se tratasse de um hotel 5 estrelas. A serio, que fiquei comovido pela recepção. Dei-lhe 5 euros e ela disse que tinha um quarto que era muito fresquinho…eu agradeci. De súbito caí na cama como  quase sem sentidos, tentando encontrar uma parte do meu corpo que não me doesse. Passado uma hora fui tomar banho, lavar a roupa, que estava toda cheia de pó e finalmente fui escrever para a sala. Uma senhora de Burgos que já esta a fazer o caminho há uma semana, vem acompanhada pela filha e disse-me que vai terminar amanhã em Astorga, já não pode mais e que para o ano recomeça, nessa cidade, o caminho.

A senhora do Abrigo disse-me que o normal é o peregrino ficar em Villadangos, e no outro dia Villadangos – Astorga, mas eu continuei até san Martin del Camino e percorri 26 quilómetros. Amanhã vou chegar a Astorga, são 28 quilómetros.

Vou comer qualquer coisa, poder ser uma tortilla francesa e beber uma cerveja.

Para os demais peregrinos, quando perguntam,”olá como estás?” nunca responder “estou cansado”… porque estamos todos cansados.

Mais á frente quando for para Ponferrada, (38 km), vou caminhar 8h30 segundo os caminheiros veteranos… claro que vou terminar. A minha vontade de chegar a Santiago esta a aumentar cada vez mais, esperei 11 anos por esta oportunidade.

Quando estava na esplanada chegaram três peregrinos de bicicleta, uma mãe (Estefanie, do Canadá, professora de inglês) com os seus dois filhos de 9 e 12 anos. Fazem 50 km por dia, partiram há uma semana de Pamplona.
Ficámos todos no mesmo quarto e o filho mais velho – Oliver - esteve sempre a conversar comigo, até começar a ler um livro antes de adormecer. Miúdos que se levantam todos os dia as 6h30 para fazer 50 km de bicicleta…


15 de Agosto
De San Martin del Camino a Astorga…26 Km
(saída 7h30 e chegada ás 15horas, total: 7 horas a caminhar)



Oliver, Stefanie e Tasio na ponte medieval de H. Órbigo - Venda á saída de Hospital de Órbigo
Levantei-me ás 6h30, acordei os miúdos e a mãe e sai, combinamos um encontro mais à frente para comer.

Comecei a caminhar e uma bolha, agora do pé esquerdo, impede-me de caminhar. Mas continuei e quando entrei na ponte do rio Órbigo os meninos e a mãe chegaram, estivemos ali a conversar um pouco, eles seguiram para Astorga onde combinaram esperar por mim para almoçarmos juntos.

Leio uma informação que neste lugar, no ano de 1434, um nobre Suero de Quinhones, organizava combates ou torneios contra os nobres que queriam passar a ponte para se dirigirem a Santiago. Dizia-se que era para conquistar o coração da sua amada dona Leonor de Tovar…

Chego a Hospital de Órbigo e paro para descansar numa praça frente á Igreja de San Juan Batista, do sec.XVII, com um altar barroco em talha dourada muito bonita. Quando estava a tratar dos meus pés converso com dois catalães que me deram alguns conselhos sobre como proceder em caso de bolhas…eles vem dos Pirenéus e já caminham há 20 dias…. Dizem-me que a partir de agora vou sentir muitas dores…penso em voltar para Lisboa. Nisto a senhora responsável pela Igreja chama “peregrinos podeis entrar”.

Chegam duas peregrinas que eu já conhecia do dia anterior no albergue, dissemos olá, repara que uma tem uma tendinite que assusta. Entram na capela para carimbar a credencial, entrei de seguida e foi nesse local que em decidi a continuar a peregrinação. Estabelecemos uma boa relação e resolvemos fazer o caminho juntos até Astorga, eu Mariví e Edurne.

Chegada ao alto da montanha, depois de Santibanez de Valdeiglesias

Passámos por grandes campos de milho, com canais para irrigação, afastamo-nos da estrada e começámos a dirigir-nos para os campos, longe da estrada nacional.

Chegámos a Santibanez de Valdeiglesias, onde se assistia a uma missa (hoje é Domingo) e a capela tinha um altifalante que projectava o som da homilia pelos campos fora.

Fizemos uma paragem rápida e um antigo peregrino disse-nos que é agora que começa o verdadeiro caminho. É mesmo verdade, começamos a subir, a subir, descer e depois subir.

Não é necessário levar enormes garrafas de água, porque o peso conta e vão encontrar muitas fontes ao longo do caminho.



Cruz Lavrada perto de Astorga - marco indicando o Caminho

Até chegarmos á cruz lavrada parece uma eternidade de tempo. Na cruz encontrámos mais peregrinos, chegamos a Astorga pelas 15 horas… não é necessário referir o cansaço.

A simpática Leonor foi buscar-nos á entrada da cidade e fez uma volta ao burgo para conhecermos os locais mais interessantes. Fomos colocar as mochilas no albergue, lavamos a roupa, comemos umas coisas boas que Leonor preparou e de seguida fomos visitar o palácio de Gaudi e a Catedral.

Catedral de Astorga - Palácio de Gaudi em Astorga
É uma cidade linda, com a sua magnifica Praça Maior. Depois do passeio pela cidade, voltamos ao Albergue e fomo-nos informar da sua Historia, na idade media era um hospital de peregrinos.

Na Espanha havia 280 hospitais para peregrinos. Não me posso esquecer de mencionar que fui ao centro médico e que me trataram as bolhas nos dedos dos pés, doeu um pouco. Quando se tem bolhas não se deve por Compeed, deve-se antes furar com uma agulha para sair o líquido e de seguida colocar iodo e deixar lá a linha com Betadine, em seguida proteger com gaze. Foi o que me disseram as duas enfermeiras.


16 de Agosto
Astorga – El Acebo (25km)

Levantámo-nos ás 6 horas com música gregoriana. Saímos ás 7'30. Encontrei-me com o Sérgio que é a sua terceira peregrinação a Santiago, um homem da informática que esteve um ano na Índia e que tem uma visão do mundo muito interessante. Chegamos em Santa Catalina de Somoza a 9 km de Astorga. Paramos para tomar um café e no bar encontrei a Estefanie com os filhotes Tasio e Oliver. O bar tinha o original nome de El Caminante. Novamente Chegou o Sérgio para tomar um chá.



Marivi e Edurne com Tasio e Oliver em Santa Catalina de Somoza, a 9 km de Astorga

Chegámos a El ganso para selar as credenciais numa pequena igreja com uma escada de teto e uma torre sineira. Já percorremos 13 km. São 12 horas paramos para comer no El Roble del Pelegrino. O sol queima e Marivi faz-me uma massagem na coxa da perna esquerda, a dor diminui…

O caminho é difícil, é sempre a subir, mas não tem pedras soltas…encontro-me com Alex, um catalão filho de italianos, que gosta de ser chamado o italiano e o seu parceiro Pedro, que é alpinista, diz que se sente melhor em montanha do que em estrada.

Estamos a dois quilómetros de Rabanal del Camino. Edurne está com o pé muito mal e segue de carro com a Leonor até ao abrigo de Foncebadón, eu e Marivi continuamos a caminhar mais 7 km.


Abrigo de Manjarin

Chegamos ao abrigo de Foncebadón, está cheio, temos que continuar até ao albergue de Acebo, no caminho passamos por Manjarin, cujo hospitaleiro é um excêntrico e sujo guia espiritual, parecido com um druida, responsave abrigo de 8 camas, mas um ambiente rodeado de uma magia que é uma espécie de mistura de hippy dos anos 60 com um feiticeiro…arrepiante…encantador na sua ingenuidade…enfim um ícone para os peregrinos. Ouvem-se cães e gatos numa sinfonia caótica. Este refúgio é conhecido como hospital de peregrinos desde 1180, mas actualmente só existe este estranho sítio, ao lado de um cemitério.
Estamos em plena montanha, quase a 1500 metros de altitude. Entramos em Acebo, um bonito sítio na montanha, já é tarde, estamos todos com fome, cansados e cheios de pó.
Somos muito bem recebidos pelos dois frades italianos do Albergue. A ceia é comunitária, salada, arroz e vinho. Ao longo da mesa grande, sentam-se 3 polacos, 2 eslovacos de Bratislava, 2 italianos 1 português, 4 espanhóis e 2 franceses, muito interessante…todos comunicamos.
Acreditem, estes abrigos não têm um preço fixo, damos um donativo pela dormida e refeições. A loiça é lavada por nós, todos colaboram. Temos que nos deitar até ás 10 horas e o acordar é ás 6.



17 de Agosto. 

de El Acebo, passando por  Ponferrada  a  Cacabelos (32km)

Saímos às 7 horas, dirigimo-nos em direcção a Ponferrada e encontrámos Fran, Trinidad e as filhas Sandra e Cristina. Hoje vamos caminhar 32 km até Cacabelos.

A estrada é má, porque desce constantemente e tem umas pedras enormes que resvalam…é horrível para os tendões, calcanhares e rótulas.

A paisagem é lindíssima, com prados verdejantes enfeitados com rolos de palha, arvores e riachos…



Entrada em Molinaseca - Albergue em Molinaseca - Festa do chocolate…

Chegamos a Molinaseca e já descemos até aos 600 metros de altitude.

Diz-se que os peregrinos ao passarem por esta vila, carregados de uma emoção de descer a montanha, arrancavam pedaços de madeira da porta da igreja. Consequências disso tiveram que substituir a porta de madeira por uma de ferro.

Temos que dar uma grande volta, para contornar a povoação, porque estão em festa e manda a tradição molhar os forasteiros que passem no meio do povoado. Caminhamos no meio de jovens todos encharcados.

Quando já estávamos a chegar novamente à estrada, para retomar o caminho, veio um tractor cheio de gente a tocar tambor, parou junto a nós, e encheram uns copos de chocolate quente, que era ofertado aos peregrinos, ao mesmo tempo que nos colocavam a marca dos dedos, com chocolate, na cara. Esta mistela caiu-nos no estômago como uma pedra…

Em Molinaseca surgiu a palavra “Yantar” que significa comer…têm fama de produzir os melhores enchidos da região.

Ao som de cânticos populares e batuques, continuamos a marcha até Cacabelos…



 Estrada de Cacabelos - Albergue de Cacabelos

Chegamos a Cacabelos muito cansados, o calor era muito forte e tínhamos os pés destroçados.
Entrámos no albergue e reparamos que era dentro do recinto duma igreja românica. Era um ambiente mágico…encontramos a família de Fran que tinham chegado ás 7 da tarde.

Falámos com Kiara (de Florença) sobre os motivos para fazer o Caminho de Santiago, explicou-nos que vinha de Itália, acompanhada por 3 amigos e que se separou deles por ter necessidade de ficar só, para ter tempo para escrever, meditar e recarregar as baterias. Acabou a licenciatura em biologia e falámos sobretudo de politica, religião e poder eclesiástico.

Como não havia colchões suficientes para todos os peregrinos, muitos dormiram ao ar livre junto á parede da igreja.

Cacabelos é uma terra bonita, com o albergue situado frente ao rio que é referido no Códice medieval como “passa nestas paragens um rio que carrega águas conhecidas pela sua qualidade e pureza



Eu, acompanhado por Mariví e Edurne


18 de Agosto
Cacabelos – Villafranca del Bierzo (7 kms.)

Hospital de peregrinos de Cacabelos:
A porta abre-se a todos, enfermos e sanos, não só a católicos, mas também a pagãos, judeus, hereges, ociosos e inúteis e para alguns poucos bons e profanos”…   Poema do Sec.XIII



Albergue de Villafranca del Bierzo - Igreja Românica de Santiago (sec.XII)

Acordo ás 6h e Marivi prepara-se para me curar os pés, furando com a agulha as bolhas, deixando a linha dentro da pele e depois coloca Betadine para secar…tem sido assim todos os dias.

Saímos às 7h30 de Cacabelos por um caminho ao lado da estrada nacional. Marivi diz que os sapatos começam a formar parte dos seus pés, porque se estão adaptando a pouco e pouco. O objectivo consiste em chegar a Villafranca del Bierzo, porque assim podemos descansar no abrigo e recuperar forças para a etapa de amanhã, que vai ser dura. É preciso estar com as pernas bem descansadas para subir a montanha de 1400 metros. acreditamos que os primeiros 20 km serão de subida de nível médio e aumentará para nível alto nos últimos 10 kms passado.

Todos os dias vemos o nascer do sol, é uma sensação indescritível. O caminho está pintado de vinhedos cujas uvas produzem o famoso vinho da região del Bierzo. No Códice Calistino aparece uma frase referente a esta região: “o vinho e o latim chegam a todas as partes”. Villafranca del Bierzo é uma vila de peregrinos por excelência, situada na convergência dos rios Valcarce e Burbia rivaliza com Ponferrada em relação ao seu património artístico. O abrigo fica ao lado da Igreja românica de Santiago do sec.XII. Com apenas uma nave, destaca-se  a Norte a Porta do Perdão, considerada a jóia desta igreja. Chama-se a Porta do Perdão, porque o peregrino que não podia continuar o caminho até Santiago, devido a doença, ou moribundo, ao passar por baixo desta porta, tinha as mesmas indulgências como se tivesse passado a porta da catedral de Santiago, que só abre em ano de Jubileu ou ano Santo. Vista por fora, a porta tem um arco românico apontando um pouco ao Gótico. Os capiteis têm motivos dos três reis magos a cavalo, a crucificação, a anunciação, os demais capiteis têm motivos florais.



A visita à igreja, foi guiada por uma simpática senhora que explicou todos os pormenores, fixando-se na cruz com o Cristo, atrás do altar. Esta peça feita numa única peça de madeira representava um Cristo com um olhar de tristeza e dor total.
Ao lado da igreja fica o albergue que era um antigo hospital de peregrinos (Ave Fenix), e que permanece quase o mesmo desde a Idade Média. Visitámos a Plaza Mayor e voltei a encontrar a família de Fran, que nos informou que a farmácia tinha curado os pés de Trini... foi música para os meus ouvidos…entrei na farmácia e falei com o Andrés, que me tratou dos pés e me aconselhou uns pensos que ele próprio desenvolveu ao longo de 4 anos, com as informações que foi recolhendo dos peregrinos.



19 de Agosto 

Villafranca del Bierzo - Las Herrerias (19 km)

Que a luz das estrelas guie a tua caminhada



Albergue de Villafranca del Bierzo - Aspecto dos dormitórios - Villafranca del Bierzo pelas 6h30

Saimos de Villafranca  pelas 7 horas. Na entrada do abrigo, só agora reparei numa Inscrição contendo uma mensagem aos peregrinos” Que a luz das estrelas guie a tua caminhada” …os meus pés continuam uma lastima, caminhei quase 1 km  e parei …não consigo andar mais, tenho os pés todos ligados á frente com pensos. Edurne continua, mas Marivi fica comigo, á espera de apoio. Ainda é noite, Leonor chega para irmos ao hospital de Pedrafita, que fica a cerca de 20 km a Norte. Mariví continua até O Cebreiro. A subida é íngreme, no caminho encontrámos um casal a pedir boleia para também ir ao hospital, a rapariga está muito mal…tem os músculos todos doridos, já vomitou e mal consegue falar. Passamos pelo Inglês Bob, sempre bem disposto, com o seu humor inimitável… no Hospital o medico disse-me que se continuar vou sentir muitas dores, tenho a perna inchada devido a uma tendinite e os dedos todos ligados, fez referência ao bom trabalho que fez Marivi. Deu-me um analgésico…de seguida fomos para o próximo abrigo que fica em Las Herrerias.




Um local paradisíaco…sem palavras para o descrever, só contemplando esta obra de Deus, é tudo tão bonito. Este albergue pertence a uma catalã chamada Miriam e que ao fazer o Caminho conheceu um americano de Chicago, apaixonaram-se e desde há 2 anos vivem neste paraíso, ele faz artesanato (brincos, pulseiras, colares etc) ela organiza o albergue.

Estou sentado num banco de pedra contemplando uma igreja Barroca - neoclássica do Século XVII, na baixa umas vacas pastam e sobre um pequeno rio passa uma ponte romana. Eu já não saía daqui… uma paisagem totalmente bucólica…vejo lá em cima a montanha e fico com a sensação que não consigo subir até ao El Cebreiro, os antigos caminheiros dizem que é a etapa mais difícil, é puro alpinismo.
È uma da tarde, só agora chegam Marivi e Edurne. Que grandes Chicas…nunca tinha visto tanta força de vontade, é preciso referir que Marivi tem dores fortes na rótula e Edurne tem uma tendinite como eu…mesmo assim não desistem.

A primeira coisa que dizem é referente ao caminho…”é maravilhoso, caminhamos sempre ao lado das árvores, junto ao rio… a sensação de ver os raios de sol passando através das arvores …”

São 6 horas da tarde, chegam ao albergue duas alemães, de Munique e de Berlim, dois belgas de Antuérpia, partiram de Saint Jean de Pied de Port há 19 dias.  Finalmente chega a família de Fran, cujo destino era Faba, mas as meninas não aguentaram e dormem esta noite aqui. Se conseguir chegar lá acima, no O Cebreiro, penso visitar uma capela pré românica (capela de Santa Maria La Real).


Céline em Las Herrerias, contando o caminho

Já estávamos a preparar o jantar, quando chega Céline, uma jornalista francesa de 25 anos, que partiu de Paris há seis semanas. Acaba de fazer 44 km e ainda quer continuar mais 4km até Faba. Valente…



20 de Agosto 

Las Herrerias - Alto do Poio (14 kms)

O Caminho é a Meta

Partiram das Las Herrarias em direcção ao Cebreiro.  Resolvi ir novamente ao médico…mais analgésicos e fui com Leonor esperar as valentes raparigas ao Cebreiro.



Enquanto esperamos visitamos a Igreja pré românica, uma pallosa (castro) que é uma habitação pré romana, que serve ao mesmo tempo de habitação e ao lado corte para os animais. Muito interessante a reconstituição duma castrejo… Marivi e Edurne chegaram muito cansadas, diria exaustas de cansaço. A dificuldade da subida dos últimos 8 km até O Cebreiro confirmou-se. Marivi disse-me que houve momentos que se sentiu perdida no meio da montanha, mas ao mesmo tempo sentia que gostaria imenso de partilhar aqueles momentos comigo, a subida tocou-a de uma forma magica…Soubemos que o abrigo do Hospital de la Condesa está completo, temos que Subir ao albergue do Alto do Poio. Já instalados no abrigo, disse a Marivi que esperava que os meus pés estivessem em condições para a manhã, para a etapa até Triacastela. Uma etapa de 14 km, que é praticamente tudo a descer. Estamos na esplanada do albergue, que fica situado na parte mais alta da montanha, daí o nome Alto do Poio. Fica situado a 1400 metros de altitude.

Faltam-nos 152 km para chegar a Santiago de Compostela.



21 de Agosto 

Alto do Poio (1355 metros) - Triacastela

(13 kms = 3 horas de caminhada)
não sou eu que faço o Caminho, é o Caminho que me faz a mim



Vista do Alto do Poio - Estátua do Peregrino

Saímos do Albergue às 8 horas, Marivi tratou novamente os meus pés. Estão todos ligados no fundo. Eu sou capaz de continuar. Não faz frio, o solo é argiloso, com pedras soltas, algumas descidas e subidas íngremes. Encontramos um italiano que nos ofereceu chá quente, disse que é sempre melhor para o corpo, bebermos líquidos quentes ao invés de frio.

A família de Fran está bem, passou por nós, na aldeia de O Biduedo, uma povoação que está a 1200 metros de altitude. A paisagem é muito bonita, caminhamos através de túneis naturais construídos pelas árvores. Em Filloval, começamos a descer a montanha.




Entrámos numa pequena aldeia de pastores de vacas,  uma senhora tinha feito uma espécie de uma tarte muito fina de bolo de farinha e estava serenamente a oferecer a sua especialidade aos caminhantes.

Pelo caminho comemos amoras e framboesas que alguém colocou no quintal, apresentado em bandejas de 1 euro cada.



Descendo a montanha - Passando em Filloval  - Caminho de Filloval

O dinheiro teve que ser colocado numa caixa, é impressionante a confiança que têm nos caminhantes para as coisas serem deixadas sem qualquer vigilância.

Aqui estamos verdadeiramente unidos com a natureza. Entramos na Galiza, que é composta por quatro províncias: A Corunha, Lugo, Ourense e Pontevedra. Agora estamos passando pela província de Lugo. Faltam-nos apenas 131 kms, para chegar a Santiago de Compostela.

Este sitio é um paraíso, rodeado pelos agricultores, com vacas da famosa "Rubia Gallega" apreciada pela sua carne saborosa.




As famosas vacas “Rubia Gallega” - Vista sobre a Galiza. - 131 kms,para chegar a Santiago de Compostela        

Estava a conversar com Marivi a respeito das feridas dos pés, quando entra na hospedaria uma senhora que aparenta ter cerca de 60 anos e diz que hoje já andou 36 kms, desde La Portela de Valcarce.

Em frente à pousada, um rio flui serenamente, estamos observando a natureza duma varanda.
Lembro-me de um peregrino me dizer, que ao longo do Caminho devia contar com sol, chuva, frio e cansado, ele tinha feito duas peregrinações a Santiago  e referia que peregrinar era sair de um lugar e dirigir-se ao próximo refugio, isto era, para ele, peregrinar, eu concordo.



Mosteiro de Samos - Edurne e Marivi com a família de Fran

Depois do almoço fomos visitar o Mosteiro de Samos. Está considerado como um dos mais antigos do Ocidente, já que remonta as suas origens ao século VI. A primeira comunidade monástica, seguia o ideal ascético dos monges coptas do deserto. Nos fins do século VIII, Samos educa o futuro rei Afonso II, o casto, impulsor da difusão do sepulcro de Santiago, que foi descoberto no seu reinado. Com a adopção da regra de São Bento em 960, o mosteiro ocupa-se da hospitalidade dos peregrinos.


22 de Agosto
Triacastela – Sarria (21km)




Vista do albergue de Triacastela á noite e durante o dia.

Saimos pelas 7 horas, ainda estava noite. Mais á frente outros peregrinos estavam confusos para que lado deviam seguir…temos que seguir a estrada para Samos e saímos na direcção de Sanxil. A neblina ainda estava assente. A imagem que tinha deste lugar, é o do paraíso na terra, ou do jardim do éden.
Segui sozinho, a mochila  pesava uma tonelada.

A primeira subida é muito acentuada, subimos aos 900 metros de altitude, deixa-nos sem fôlego, no alto temos uma fonte de água fria, depois descemos uma escarpa com pedra solta…mas o que faz desta etapa uma experiencia única é a vista deslumbrante que temos do vale. Há muitas fontes, vacas,  prados, vacas e caminhos …
Lugar de Montan, onde me perdi e a vista de Montan do alto da serra.

Cheguei ao Alto do Riocabo, apanhei maçãs suculentas e amoras, depois comi frutos secos quando descia para Montán, que fica num vale de cortar a respiração, ao contemplarmos tal beleza. Segui um caminho em frente, não vi as setas amarelas e andei perdido durante uns kilometros.  Chegamos a Calvor e paramos num bar para comermos um bocadilho de tortillas  e um chocolate quente, aqui faz frio, esta quase a chover…

Finalmente chegamos a Sarria e como todos os albergues estão cheios vamos dormir ao ar livre, temos duas tendas.


Dia 23 de Agosto
Sarria – Mercadoiro ( 22 km)

A saída de Sarria foi tranquila. Pelas 6h30 tratei das feridas, ou melhor a querida Marivi tratou das minhas feridas. Tenho os pés numa lastima…já são muitos quilómetros feitos. Não me arrependo de nada, teria feito tudo, de uma forma idêntica. Estou sem adesivos, pensos, gaze e betadine. Na saída de Sarria reforço a farmácia.



Mais abaixo passo o Rio Sarria, que bonito… visito o Convento de la Merced. Um dos lugares simbólicos do passado medieval de Sarria. Hoje em dia este convento pertence aos padres mercedários, foi fundado nos princípios do século XIII como hospital de peregrinos por dois religiosos italianos. No interior observamos um magnífico claustro e uma bonita igreja com uma mistura de vários estilos construtivos do sec XV ao XVIII. Passo um ribeiro pela ponte romana, mais adiante atravesso a linha férrea e depois vem a parte da subida íngreme no meio dum túnel de árvores.

Há já três dias que estou com uma tendinite junto ao perónio da perna esquerda, está muito inchada, estou a tomar analgésicos…só assim consigo caminhar.



O vale ás 6h30 da manhã

Está a nascer o sol, a paisagem lembra uma pintura surrealista…
São já 9h30, caminho há mais de duas horas. Depois da subida encho o cantil e sinto que as pernas não querem andar…bem…



San Xil pelas 7 horas da manhã - os meus pés… - a subida…

Estou em Vilei, entro numa área de descanso…um pouco para turistas, com musica Celta, maquinas de moedas para bebidas. Aconteceu aqui uma situação muito, diria, surreal. Estava a mudar de meias, e como é natural num caminheiro, os pés são os elementos mais danificados do corpo. Chegaram de repente vários caminheiros que eu chamo de touregrinos, com máquinas fotográficas a tiracolo e ao observarem os meus pés pegam nas suas maquinas e eu levanto o olhar e deparo-me com cinco touregrinos a dizer “probrecito” enquanto disparam as suas reflex. Falta referir que, nesta altura da caminhada, eu estou com barba e a roupa não está passada nem muito limpa.

Encontro as catalãs que estão cansadas e uma delas acaba de vir do hospital porque tem o joelho todo ligado.
Faltam 108 quilómetros para entrar em Santiago de Compostela.



A Brea

Cheguei ao alto de A Brea a quase 700 m de altitude. Faz um pouco de frio e vento, começa a chover, paro para colocar a capa da mochila e o meu impermeável.

Chegamos ao abrigo de Mercadoiro pelas 2 horas, é um lugar muito bonito, limpo e tem uma vista fantástica.

Há já muitos dias que estamos na montanha, zona rural de agricultura, pastoreio e vacas…muitas vacas.

São 8h, estamos a comer uma sandes de vegetais e a beber uma cerveja. Está a chover torrencialmente.
Apareceu-me uma bolha sobre uma bolha, estranho…



O Abrigo Celta de Mercadoiro

São 9h, estamos a ouvir música celta, enquanto, lá fora, cai um a chuva diluviana. Estamos retidos aqui no café, pois se saíssemos agora, ficaríamos todos ensopados.

O café está cheio de peregrinos que comem as suas sandes de vegetais e bebem sidra. Uma das formas de tomar um café em Espanha é com gelo, delicioso.

Há já dez dias que não vejo televisão, nem leio jornais. Nos albergues não há televisão. Não faço ideia como está o mundo, espero que melhor do que quando o deixei.


24 de Agosto 
de Mercadoiro a Portomarín



Portomarin e o rio Minho - Mariví e Edurne, continuaram. - Ventas de Narón

Depois de caminhar até Portomarin , fiquei com Leonor a descansar. Mariví e Edurne, continuaram. O caminho começa com subidas e descidas bastante pronunciadas. A paisagem começa a mudar para extensos bosques de pinheiros, castanheiros e eucaliptos. Passamos por um campo de girassóis, com todas as flores olhando o sol…. Chegaram a Ventas de Narón, para dormir e como não havia sitio para ficar, abriram-se as tendas atrás do albergue.



Arredores de Portomarin - Caminho para Ventas de Narón


25 de Agosto
Ventas de Narón – Casanova
Novamente 7h00 da manhã e começa a caminhada… muitos quilómetros bastante suaves. Em A Brea estavam a mãe e o filho da Eslováquia, muito simpáticos, sempre sorrindo.

Seguiram até Palas de Rei, voltaram a encontrar a mãe e filho eslovacos. A mãe estava com muitas dores nas costas. Mariví oferece-se para lhe dar uma massagem, ao que ela fica muito agradecida

Encontraram um cavalo lindíssimo, que estava num cercado. Marivi chamou-o com um assobio e ele veio, docilmente, para ser acariciado. Nisto começou uma descida que era tão estreita, que só se podia por um pé de cada vez.

De Pontecampaña a Casanova, foi tudo a subir, por um caminho muito difícil, todo rodeado de arvoredo de eucaliptos e Castanheiros…este sitio tem algo de magico, com as sombras iluminadas pelos raios de sol que entravam entre as ramas e com as raízes saindo do solo, como que procura da luz, num contorno magico como num conto da fadas.

O albergue era só para 20 pessoas, muito pequeno. Mariví e Edurne conversaram muito tempo com dois espanhóis de Valladolid. Um deles tinha uma lesão nas costas que lhe doía muito. Mais uma vez Mariví se ofereceu para lhe fazer uma boa massagem. O outro espanhol, de Madrid, o César, também de 37 anos, um tipo muito simpático e com um olhar muito sincero, que já fez o Caminho desde Roncesvalles.

Quando estavam descansando á porta do albergue, voltaram a ver passar a mãe e filho eslovacos, que seguiam o caminho até Melide.


26 de Agosto
de Casanova a Ribadiso da Baixo  (26 km)

Iniciei o Caminho em Boente, situado cerca de Arzúa, Na igreja, donde carimbamos a Credencial, falámos com dois peregrinos que vão a cavalo. Deixaram-nos acariciar os cavalos que eram majestosos, possuindo uma garupa muito alta.



Em Boente com peregrinos a cavalo. - Guarda Civil… - …a caminho de Arzúa.

Passamos Castaneda e começámos a subir ligeiramente. Estamos novamente rodeados de eucaliptos, castanheiros e pinheiros, o aroma dos eucaliptos quase que nos embriaga por ser tão intenso e penetrante… mas ao mesmo tempo agradável.

Todo o caminho está rodeado por arbustos silvestres com amoras. Faltam 3 kilómetros para Arzúa, deparámo-nos com o belíssimo albergue de Ribadiso de Baixo, que tem um encanto especial e decidimos imediatamente passar aqui a noite.



Entrando em Ribadiso de Baixo - Descobrindo o albergue. - Esperando a abertura das portas.

A primeira coisa que nos desperta a atenção, é na escadaria que desce até ao rio Isso, com as suas águas cristalinas e frias, convidando o peregrino a descalçar-se e aliviar a sua dor nelas. Atravessamos a ponte medieval que dá acesso a um antigo hospital de Ribadiso, o ultimo espaço histórico que permaneceu aberto no Caminho Francês ao serviço do peregrino.



Os dormitórios de Ribadiso - A sala para refeições - A saída pela manhã.

O edifício foi restaurado e recuperado, como albergue, em 1953, formando um conjunto de incrível beleza.
O peregrino sente, quando chega a este local, uma calma e uma paz, que tranquilizam o espírito e serenam a alma.



“Peregrinar é um acto de fé. Os Caminhos de Santiago são percursos percorridos pelos peregrinos que afluem a Santiago de Compostela desde o século IX. São chamados Peregrinos, que deriva do latim "Per Agros", todo "aquele que atravessa os campos". Tem como símbolo uma concha, que normalmente é de vieira, designada localmente como "venera", e é um costume ancestral quando os povos peregrinavam a Finisterra”


27 de Agosto
Ribadiso de Baixo a Monto do Gozo (38 km)

Toda a noite choveu. Como todos os albergues começam a estar cheios, é necessário  sairmos muito cedo para o caminho. Ainda não eram 6 horas quando saí para a nova etapa, combinei encontrar-me com Edurne e Mariví na plaza  Galicia em Arzúa.

Vou caminhando com a ajuda da lanterna, acompanhado de um casal belga. Devido a um erro de comunicação, desencontrei-me com elas e fiquei á sua espera, mais acima, a 5km, em Calzada.



Um café em Calzada - Ponto de encontro em A Brea - Peregrinos a Cavalo

 Em Boavista, a cerca de 9 km de Arzúa, passaram por nós imensos peregrinos a cavalo, vinham em peregrinação do Norte, porque é aqui que convergem os dois caminhos, o do Norte com o caminho francês. O encontro é em A Brea, a 13 km de Arzúa. Em O Xen estavam parados mais 15 cavaleiros.

O Caminho  é rodeado de eucaliptos, pinheiros, que formam um túnel que liberta um aroma agradável, que nos persegue todo o caminho. Almoçámos em Almenal, já caminhámos há 8 horas, percorremos 27 km, ainda nos falta fazer 11 km para chegar ao Monte do Gozo.

Vamos ficar aí a dormir.

A subida para o Monte do Gozo foi difícil. Os primeiros 30 km foram relativamente fáceis, mas quando faltam 11 km, começa a subida para o Monte, que nos deixa exaustos.



Subida ao Monte do Gozo - Monte do Gozo - Vista sobre Santiago

As expectativas da chagada ao Monte do Gozo eram altas, mas não corresponderam á ideia que tínhamos, porque encontrámos um lugar impessoal e muito explorado turisticamente.

Dormimos no Parque de São Marcos. Estávamos a jantar, quando chegaram peregrinos a cavalo. Pediram-nos para deixarem os cavalos num local perto das nossas tendas, claro que não há problema…os cavalos ficaram á solta e durante a noite acordámos com o ruído dos cascos. Não dormimos nada bem, passaram a noite a passearem ao lado das tendas.

Quando saímos da tenda, sentimos um odor estranho e ao ligar a lanterna, verificamos que á volta das tendas estavam dejectos de cavalo.



Monte do Gozo - Caminho para Santiago


28 de Agosto
Monte do Gozo a Santiago de Compostela (5km)



Descida do Monte para Santiago. - Chegada a Santiago de Compostela. - Entrada na Praça do Obradoiro.

Saímos do Parque para a ultima etapa. Faltam 5 km para terminar a nossa caminhada.

O caminhar torna-se sereno, mas ao mesmo tempo estranho, talvez pelo receio de terminar e não saber o que fazer depois.

Depois de caminharmos cerca de uma hora, finalmente vemos Santiago de Compostela.

A este lugar vêm os povos bárbaros e todos os que habitam nos climas do norte, cumprindo seus votos de acção de graças para com o Senhor e levando o premio dos louvores
In Códice Calixtino

Entrámos na praça frente à Catedral. A chegada é indescritível,  imensos peregrinos, prostrados no chão, rezando, chorando, agradecendo pela chegada…uma visão muito forte, que jamais esquecerei.
O Obradoiro é o fim, mas ao mesmo tempo, o começo de uma nova vida, que se define pelo inicio e pelo fim da caminhada.



Praça do Obradoiro - Ruas desertas - Esperando para receber a Compostela

São oito horas, a Catedral está encerrada, as ruas ainda estão desertas, somos dos primeiros a chegar.
Dirigimo-nos para a fila da Compostela. O escritório só abre ás nove horas. Enquanto aguardamos, vemos vários companheiros de caminhada. Um sentimento de forte união, é o que define estes encontros, sofremos todos as mesmas dificuldades.


Catedral de Santiago de Compostela  e  interior da Catedral - vista de uma torre da Catedral

Chegar a Santiago de Compostela como peregrino, é uma experiencia inigualável, indescritível  e creio que por muitas viagens que fiz à volta do mundo, nenhuma se pode comparar a esta.



Rua de Santiago - São Tiago